sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

O corredor




Nada disso. Título errado. Ninguém correndo coisa nenhuma. Na verdade seria “o corretor”. Maldito! Todo mundo reclamando desta praga. Você nem precisa se esforçar muito para sair enviando asneiras pra todo lado. Frases sem sentido. Parece realmente uma brincadeirinha da tecnologia, hein? Outro dia tentei mandar para a filha: “O seu pai está perguntando...”. E saiu “O seu pai está perfurando...”. Caramba! Perfurando? Que coisa bizarra, hein? E nós nem temos furadeira em casa. (Aliás, sobrevivemos 30 anos de casados emprestando de vizinhos, zeladores etc). Ou seria algo assim meio pornográfico? Perfurando? Durante o período de trabalho? Quem, meu Deus? Ainda bem que eu corrigi a tempo. Falando em “Deus”, outra coisa que eu reparei. Se você digita qualquer nome que seja, o corretor bota a letra maiúscula: Maria, Roberval, Google, Carapicuíba, Asdrúbal. Mas se a gente escreve “deus”, que, convenhamos, é bem famoso, fica assim mesmo, na minúscula. Os caras tão mexendo com peixe grande. Em todo caso, facilita muito a vida (apressada) que estamos vivendo. Digitar no PC, como estou fazendo agora, parece aquela datilografia em máquina manual, do meu tempo de asdfg.
Outra reclamação, Senhor Correia. Senhor Correto. Senhor Corredor. Não! Senhor Corretor! Por que você não sabe nada de concordância? Eu digito “as cois..” e você me vem com “coisa”, “coiso”, “coisinha”... e nada que combine com “as”. Cadê o “coisas”, concordando com o “as”? É difícil colaborar? Se não quer ajudar, também não atrapalha, seu racker falho da pauta.


Boa sexta!

A moça da Vejinha



Às vezes consigo umas coisas que nem eu mesma acredito. Por exemplo, criar uma pauta e trazer a repórter da Vejinha (quando ainda tinha leitores), para fazer uma reportagem num restaurante que ninguém nem sabia que existia. Eu era a assessora de imprensa do dito cujo. Para quem não sabe, o assessor de imprensa ajuda você a aparecer na mídia sem pagar nada por isso. É dureza. Você precisa inventar assunto e encher a paciência de meio mundo. (Detesto!) O fato é que o restaurante “X” pretendia divulgar sua novidade: o jantar dançante. E eu entreguei de bandeja para a repórter todos os lugares da cidade de SP que tinham jantar dançante, assim saía uma matéria, incluindo a gente. Ela, por gratidão, aceitou vir ao nosso humilde restaurante de flat. Que pena. Isso eu pensei depois, claro. Na hora, achei que tivesse ganho na loteria! Mas Deus tem um senso de humor, viu? Fomos ao jantar dançante eu e meu marido (coitado), a repórter e o namorado (também coitados). Mesa para quatro. Dançando na pista, meu chefe com a esposa, mais dois gatos pingados. Realmente o verdadeiro “dois pra lá, dois pra cá”. Tudo do próprio staf, pra mostrar o “sucesso” do bagulho, fazer volume. Não fazia, devo dizer. Até aí, normal. Mas o problema foi a banda (falando em volume). Algum espírito de porco avisou que viria a reportagem da Vejinha. Pronto. Os caras tocavam e cantavam tão alto (e mal) pra serem “descobertos”, tão assustadoramente chatos e ruins, que não conseguimos trocar duas palavras além de “o som é um pouco alto, não?” “Quêêê?”.  Quanto mais a gente tentava ignorar os músicos, mais alto o som ficava! Então, veja só minha situação: eu, tentando fazer sinal para o meu chefe, lá na pista, disfarçadamente, porque ele não poderia ser meu chefe. Deveria ser alguém que adorava aquele lugarzinho desconhecido, com comida de bufê, com um som péssimo e ensurdecedor. Pior que isso, só se a repórter morresse de indigestão. Mas, tudo passa, não é? A moça foi boazinha e me ligou no dia seguinte pra dizer que não falaria nada da gente. Nem mal, nem bem, nem coisa nenhuma.
Os músicos, esses sim, bem que poderiam ter comido alguma coisinha vencida. Deus que me perdoe.

Boa sexta!

Trocando a fita da máquina


Às vezes a gente pensa que serve pra fazer uma coisa só porque tem muitos parentes bons nisso. Isso aconteceu comigo. Eu era inocente e não me conhecia direito. Hoje dou risada só de pensar, só de escrever isso e relembrar a excelente ideia. Mas foi sacanagem da família não dar um toque. (Valeu, gente.) Pois eu tentei ser secretária. Minha mãe era, minhas duas irmãs eram. Fiz o tal curso e arrumei um estágio num escritório de engenharia. O chefe, aliás, me escolheu em vez da melhor aluna da classe, que também apareceu na entrevista. Tonto. Eu fui toda arrumadinha e a outra era dentuça. Azar do cara, que levou gato por lebre. Meu também, que tive dez dias de cão. De secretária.
Talvez eu precise escrever vários textos sobre esta rica experiência, mas começo com este episódio épico. Certo dia, a fita da máquina elétrica acabou. Até que eu digitava bem, mas toda hora precisava interromper o chefe pra perguntar o que estava escrito aqui e ali, antes de datilografar. Ele tinha um garrancho horroroso. Não dava nem pra chutar os termos totalmente “x” dos orçamentos, como “cotovelo” e coisas do tipo. O chefe tinha um cabelo ensebado, uma cara de poucos amigos, mas tudo bem. Então a fita da máquina acabou. Era elétrica. Pena que eu só sabia como trocar fita de máquina antiga (!). Como as que tinha no meu curso, onde batia com força o tal do asdfg. Bom, então lá fui eu, sozinha na sala, com toda boa vontade. Tirei a fita velha, mas na hora de colocar a nova, um parto: tentei assim, assado, aqui, ali... mas não encaixava. Aí pressionei um pouco demais e... zupt! A fita, toda compacta, se soltou todinha, como uma serpentina feita de plástico.  Como aquelas molas que saem quando você abre uma caixinha-surpresa. Meio desesperada, fui tentando enrolar a tal da fita de novo. Óbvio que não dava. Estava eu lá envolta em fita marrom. E o serviço era urgente, pra piorar a situação. Nisso, uma sombra surge atrás de mim. Era meu chefe, o ensebado. Olhou, virou e saiu da sala. Silêncio total. E eu lá, coberta de fita, pavor... e vontade de rir.
Mesmo depois disso, ainda durei alguns dias no emprego, sabe-se lá por quê. E me pergunto: esse cara não tinha senso de humor? E onde andará a dentuça?

Boa sexta!

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Por que escrever?


Muito bem. Já deu pra perceber que eu gosto de contar histórias. Mas poderia muito bem falar delas para os amigos e parentes. Por que escrevê-las, se gosto tanto de conversar? A resposta é muito simples. Aqui, ninguém me interrompe. Não passa avião. Não toca o telefone. Ninguém confere as mensagens de celular enquanto você fala sozinho, no vácuo da tecnologia. Claro que você, leitor, pode largar o texto aqui mesmo. Curtir na primeira linha e tchau. (Quem nunca?) Embrulhar bananas com isto. Mas tudo bem. Consigo contar até o fim a história. Que delícia! Na minha família, isso é coisa difícil. Todo mundo fala ao mesmo tempo. Minha santa mãezinha, por exemplo, te pergunta duas coisas ao mesmo tempo e, niqui você está tentando responder,... pá: a) ela emenda outra pergunta; b) ela diz que você está meio pálida ou então “Que blusa linda. É nova?” (foi ela mesma que deu); c) ela vai lavar a louça; d) ela tenta adivinhar o resto da frase ... e) ela te oferece alguma comida ou bebida... f) todas as anteriores.
De qualquer forma, escrever é muito bom. Se você não gosta, eu entendo. Mas espero que goste de ler. Um leitor é sempre alguém que te ouve. Deus te proteja. J

P.S. – Devo confessar que já faço igualzinho minha mãe com minhas pobres filhas. Mas elas são mais bravas. A Natália para de falar de repente e grita: “O que você tá olhando meu cabelo, mãe? Você ouviu o que eu disse?” Glup! (Acho que é por isso que ela escreve também...)

Arrumação!


Então, meus queridos... eu, que sou a campeã mundial da bagunça, pós graduada em Harvard em Desorganização Doméstica, acumuladora compulsiva de tralhas e saquinhos de supermercado (até os pagos!)... Eu, doutoranda em montinhos de bilhetes, anotações diversas e outras coisas pela casa... eu, às vezes tenho um repente, um faniquito louco de arrumação! Algo dentro de mim que explode e diz: “Basta! Chega disso! Chega de história!” E saio possuída pelas gavetas e prateleiras e pelos chãos e pelos papeis, roupas, tudo, tudo! Descabelada, arrumando, arrumando, doando, doando, basta, basta! Assim mesmo, colocando os fantasmas pra fora. E então, depois de um desses lampejos de consciência arrumadora, ainda curtindo minha passageira alegria de limpeza, tão feliz comigo mesma, ouço a inesperada pergunta da minha querida diarista, a Maria, que vem na quarta-feira: “Dona Evelyn, a senhora, por acaso, sabe onde estão minhas coisas?” Sim! Isso mesmo que você está imaginando aí no sossego de sua normalidade. Eu dei as coisas da Maria embora. Mas calma! Eu fui rápida. Saí correndo, correndo, mais descabelada ainda pela rua até chegar no Pão de Açúcar e passar a vergonha indescritível de catar as minhas coisas (da Maria!) de dentro da caixa de doação.
Como se vê, sou mesmo caso para um especialista.

Boa sexta!


A boa repórter


O jornalismo é assim. Permite que a gente trabalhe numa infinidade de assuntos diferentes. Numa certa época, fui convidada para fazer a revista de um grupo chamado KLB (Kiko, Leandro e Bruno). Talvez você conheça. Os meninos tinham uma legião de fãs, eventos, participação em programas etc. Ficava um bando de meninas de plantão na porta deles. E eu, mesmo sendo a “jornalista oficial da revista oficial”, não conseguia falar com os caras nun-ca. Era difícil pra burro conseguir um minuto e, se por acaso acontecesse este milagre, seria entre um compromisso e outro. E, pior ainda, entre milhões de pessoas que viviam em volta deles, em qualquer lugar. Coisa insuportável. Deus me livre ser celebridade! Um belo dia, finalmente, lá estava eu diante do Leandro, o mais assediado, tipo galãzinho das meninas. Eu precisava perguntar coisas bem picantes, do tipo “como foi sua primeira vez” ou “você beija bem” para um sujeito que mal conhecia. Horror. Detalhe: em pé, olhando para cima, já que ele mede uns 2m, aproximadamente. Eu, 1,64m. Com pressa, bem rapidinho. O gravador na mão. Meio difícil fazer perguntas, dar play, pause, stop etc (e olhando pra cima, de pé). O cara já querendo ir falar com a repórter da Capricho. Mas consegui. “Você beija bem? Como foi sua primeira vez? Você usa cueca? O que te atrai numa mulher? Que parte do corpo você ensaboa primeiro? E a última? Você dorme de bruços?” Sucesso! Fui embora aliviada. Mas esse alívio durou muito pouco. Já em casa, ouvindo a fita, uma revelação: Leandro emudeceu em algumas (das poucas) respostas daquelas profundas questões. Como isso? Devo ter apertado o botão errado, óbvio. Ri e chorei ao mesmo tempo. Que anta! Trabalho difícil, constrangedor, mas deu tudo certo. Até que os textos saíam bonitinhos, no fim das contas. Pena que tomei um calote da editora (não do KLB, devo dizer.). Felizmente, o único até hoje. E, afinal, dinheiro ou história? Prefiro história. Porque dinheiro a gente gasta. E história, só valoriza. ;)

Por que "Boa Sexta"?


Boa sexta!

Um dia esta saudação será muito usada e fui eu que inventei. Por acidente, preciso confessar. Mas fui eu. Era uma sexta-feira como outra qualquer. Eu tinha um jornal de bairro e fui com meus sócios tentar vender anúncio para um dono de restaurante. Com minha habilidade e desenvoltura (!), na hora de ir embora, quis ser simpática e tentei falar o já consagrado “Bom final de semana!”. Mas não. A primeira palavra que saiu foi “boa”. Meus amigos me olharam e eu continuei: “Boa... sexta!”. Ficou ótimo. A Patty: “Boa sexta?”. Caímos na risada já na porta do restaurante do homem. O jornal durou seis meses. Meu casamento quase acabou. (O marido era um dos sócios.) Mesmo assim, demos boas risadas.
Então, boa sexta pra você!

Evelyn Heine
(Inventora oficial do “Boa sexta!”)


OBS.: Você vai notar que existe outro post aqui com o texto idêntico. Acontece que eu ganhei este blog de presente do querido e talentoso Rodrigo Terra (designer gráfico). Aí ele postou o meu primeiro texto, dia 14 de dezembro... adivinhe em que dia da semana. Uma segunda-feira! Achei que valia a pena também postar de novo hoje. Todo mundo sabe que a segunda é o antônimo absoluto da sexta, não é?
Então, vamos que vamos. Bora festejar! E um beijo especial pro Rodrigo.