Herdei
um livro sobre o Budismo do amigo Pires e adorei saber que a doutrina prega a
atenção ao aqui e agora, apesar de muita gente imaginar que seria justamente o
contrário. Que o povo zen é aquele que não está nem aí com nada. Mentira. E faz
todo o sentido. Bom, juro que eu tento, mas estou longe do Nirvana. Sou aquela
pessoa que não presta atenção nem na própria conversa... “... o que eu tava
dizendo, mesmo?” Daí é que saem as preciosidades. Quando eu virar budista, aí
você vai ver só. Vai ter que ler as pérolas de outra pessoa. Tudo isso pra
contar sobre a vez que ia ligar lá em casa o pai de uma amiguinha de escola da
minha caçula. O cara era todo formal. Fumava cachimbo! Rico! Distinto até o
último fio de bigode. Parecia realmente um inglês. A gente já fica nervosa. Se
tem uma coisa que ninguém quer é que o pai da amiga da filha saiba que você é
meio maluca, não bate bem. Principalmente se vai convidar a menina pra ir na
sua casa. Mas aí ele ligou. “Boa noite... Sim, claro... de acordo... “ e
aqueles termos que você só usa com gente assim, que fuma cachimbo. Consegui manter uma conversa bem educada, tal.
No fim de tudo, aquele deslize antibudista: “Até amanhã, obrigada... beijão!” Eu
disse BEIJÃO! BEIJÃO! Desliguei e saí gritando pela casa: “Beijão, beijão! Eu
falei beijão pro homem! Beijão” Coitadinha da minha filhinha. Estava tudo
arruinado. Eu só conseguia pensar nisso, aquela palavra ecoando: beijão,
beijão! Mas aí passou o choque. Fazer o quê? Palavra dita não dá pra engolir de
volta. Virou o apelido oficial do cara. “O beijão chegou. O beijão isso. O
beijão aquilo”. Ele lá, com o cachimbo dele, tomando seu drinque com azeitona, ouvindo
um jazz, nunca saberá que ganhou este carinhoso apelido na minha casa. É isso
aí, Beijão! E nem faço ideia do seu verdadeiro nome.
Boa
sexta!
(e
beijão pra vc também)