sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

A peça



Era um fim de domingo e minha filha mais velha me convidou gentilmente para ir ver uma peça com ela: “Morte e Vida Severina”, lá na rua Maria Antônia. Fiquei toda contentinha porque gosto de desmistificar este negócio de domingo à tarde só na preguicinha caseira. Comigo, não! Eu luto! Chegando lá, o arrependimento já bateu logo na entrada. As poucas pessoas eram encaminhadas para um corredor esquisito, com chão de terra. (!) Sujei meu sapato e fui indo, com a certeza de que não tinha volta. Sim, era um daqueles teatros esquisitos de performance. Uma coisa contemporânea, Deus do céu. Logo de cara me lembrei do amigo Eduardo Perácio, que levou as filhas pequenas a um evento desses no Centro Cultural Vergueiro. “Quer uma cenoura?”, diziam os atores com olhos arregalados, encarando as coitadas das meninas. “Quer um sapato?”. O Eduardo, que é um cara muito lido, não entendeu patavina. Tadinhas das crianças. Bom, mas o Edu que conte as histórias dele, o folgado. Acontece que chegamos ao “palco” e era um círculo de cadeiras em chão de terra batida. À meia luz. Realmente assustador. E eu ali já querendo o meu sofá e até o Bate-Bola que meu marido assiste depois do futebol. Tinha tão pouca gente que nem dava para você dar no pé. Eu e minha filha nos olhamos num misto de assustadas, revoltadas, ferradas. Então entraram os atores. Sujos, maltrapilhos, curvados. Eles andavam para lá e para cá nos rodeando e, pior, parando bem na nossa cara e arregalando os olhos de um modo desconcertante, segurando velas, falando sei lá que coisas. E eu só pensando: “Quer uma cenoura? Quer um sapato?” Será a mesma peça do Edu? Não. Era uma “releitura” de Morte e Vida, Severina” e, graças ao bom Deus, depois de um certo tempo, acabou! (Eu tinha dúvidas sobre isso.) Saímos daquele lugar penumbrento enfileirados no corredor de terra, todos nós, os 20 e poucos incautos. E renascemos! E foi uma delícia indescritível sair dali. Mais alegria ainda contar para a Luciana Faria e ouvir sua gargalhada gostosa. Ela havia sido convidada também, mas escapou, a espertinha.  

Boa sexta!

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