Era
um fim de domingo e minha filha mais velha me convidou gentilmente para ir ver
uma peça com ela: “Morte e Vida Severina”, lá na rua Maria Antônia. Fiquei toda
contentinha porque gosto de desmistificar este negócio de domingo à tarde só na
preguicinha caseira. Comigo, não! Eu luto! Chegando lá, o arrependimento já
bateu logo na entrada. As poucas pessoas eram encaminhadas para um corredor
esquisito, com chão de terra. (!) Sujei meu sapato e fui indo, com a certeza de
que não tinha volta. Sim, era um daqueles teatros esquisitos de performance. Uma
coisa contemporânea, Deus do céu. Logo de cara me lembrei do amigo Eduardo
Perácio, que levou as filhas pequenas a um evento desses no Centro Cultural
Vergueiro. “Quer uma cenoura?”, diziam os atores com olhos arregalados,
encarando as coitadas das meninas. “Quer um sapato?”. O Eduardo, que é um cara
muito lido, não entendeu patavina. Tadinhas das crianças. Bom, mas o Edu que
conte as histórias dele, o folgado. Acontece que chegamos ao “palco” e era um
círculo de cadeiras em chão de terra batida. À meia luz. Realmente assustador.
E eu ali já querendo o meu sofá e até o Bate-Bola que meu marido assiste depois
do futebol. Tinha tão pouca gente que nem dava para você dar no pé. Eu e minha
filha nos olhamos num misto de assustadas, revoltadas, ferradas. Então entraram
os atores. Sujos, maltrapilhos, curvados. Eles andavam para lá e para cá nos
rodeando e, pior, parando bem na nossa cara e arregalando os olhos de um modo
desconcertante, segurando velas, falando sei lá que coisas. E eu só pensando:
“Quer uma cenoura? Quer um sapato?” Será a mesma peça do Edu? Não. Era uma
“releitura” de Morte e Vida, Severina” e, graças ao bom Deus, depois de um
certo tempo, acabou! (Eu tinha dúvidas sobre isso.) Saímos daquele lugar
penumbrento enfileirados no corredor de terra, todos nós, os 20 e poucos
incautos. E renascemos! E foi uma delícia indescritível sair dali. Mais alegria
ainda contar para a Luciana Faria e ouvir sua gargalhada gostosa. Ela havia
sido convidada também, mas escapou, a espertinha.
Boa
sexta!
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