Não.
Não é o rato. Tratava-se de um rapaz judeu. Solteiro. E faz tempo. Hoje o cara
deve estar no terceiro casamento. Mas isso não é da minha conta. Acontece que
eu tinha lá meus 20 e poucos anos (como o Fábio Jr.) e tinha rompido um namoro
longo de sete anos. Não sei se eu já disse aqui, mas sou a caçula de três irmãs
de família, digamos, judaica. (“Digamos” porque lá em casa era meio avacalhado
o negócio.) As duas irmãs já eram casadas, nenhuma com judeu ou algo perto
disso. Nem operados de fimose, acho. Um amigão do meu pai, o Gunter, que a
gente até chamava de tio, achou que eu era a última esperança. Imagina só. Meu
pai estava viajando e o tio Gunter arrumou um jantar pra eu ir também. E
convidou o Mickey, um rapazinho judeu. Olha a situação. Que coisa mais
constrangedora, minha gente. Carreguei minha irmã Monica comigo pra dar uma
aliviada pro meu lado. Era uma coisa muito chique e eu, realmente, não tenho
nada de chique. Só desfilo por aí de tênis Olímpicos. Na hora do jantar,
aquelas mil taças, talheres de prata, aquele silêncio de “nem tem conheço e
preciso te amar! Quem é você, Mickey?” E esse nome, ainda por cima? Eu só
conseguia pensar no rato. Bom, mas aí a conversa começou a rolar. O tema? Esqui
nos Alpes. Que maravilha, hein? E eu nunca nem tinha visto neve! Quanto mais um
esqui. Não dava pra abrir a boca. Meu assunto, naquela época, era justamente o
Mickey (o rato), porque eu trabalhava na redação Disney de histórias em
quadrinhos. Mas achei melhor deixar quieto mesmo. Nem trocamos telefones.
Desculpa aí, paizinho. Shalom aí em cima. E o Mickey era meio chato. Os dois.
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